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SEMOC 2024

Semana de Mobilização Científica da Universidade Católica do Salvador


Data do evento: De 21 a 25 de Outubro

Datas Importantes

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17/08/2024 01/09/2024

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Apresentação

A Semana de Mobilização Científica (SEMOC) é um evento anual promovido pela Universidade Católica do Salvador (UCSal) desde 1998. Organizada com a participação ativa de docentes, discentes e colaboradores, a SEMOC integra o calendário acadêmico da universidade.

Objetivos Principais:

  • Estimular e divulgar iniciativas de pesquisa científica e extensão.
  • Conscientizar a comunidade acadêmica sobre a integração entre ensino, pesquisa e extensão.
  • Promover intercâmbios intra e interinstitucionais de conhecimento e ações comunitárias.
  • Fomentar a diversidade científica na Bahia, bem como em âmbito nacional e internacional.

Impacto e Importância:

A SEMOC fortalece a ambiência acadêmica ao mobilizar a comunidade universitária, incentivando a produção e socialização de pesquisas científicas, e facilitando o intercâmbio cultural e a colaboração entre diferentes instituições. Este evento também ajuda a criar e aprofundar redes nacionais e internacionais.

Atividades:

Durante a SEMOC, a comunidade acadêmica e externa participa de diversas atividades como conferências, mesas redondas, jornadas de pesquisa, debates, apresentações de trabalho, minicursos, oficinas e atividades culturais.

TEMÁTICA CENTRAL

CUIDAR DO OUTRO PARA CUIDAR DO MUNDO

O século XXI vem sendo gravado, de um modo muito singular, pelos males de índole neuronal. Disseminam-se com larga frequência a depressão e os transtornos da atenção. O tempo ganhou "novas medidas". Como apontou José Tolentino de Mendonça (2016, p. 14), a ansiedade ganhou contornos coletivos e se revela tradutora fiel de um panorama delicado, que guarda em seu seio uma mentalidade que cultiva a intensidade (de trabalho, de emoções, de informações, de conexões) como valor, consagrando a fadiga como estado de espírito regular e edificando soberanamente a sociedade do cansaço.

Vivemos hoje uma constante atenção sobre as condições da vida humana, com grandes preocupações sobre a saúde, o meio ambiente, as condições sociais, os conflitos entre grandes potências, os direitos fundamentais e tudo o que preocupa o nosso mundo globalizado. Diante deste cenário, é urgente discutir sobre o tema do cuidado - cuidado consigo próprio, cuidado com o outro, cuidado com o mundo.

A necessidade de refletir sobre o cuidado ganhou ainda mais força após a pandemia da COVID-19 e os novos estilos de vida implantados a partir de então. As pessoas se encontram ainda mais conectadas, mas são partícipes de um processo de globalização ainda mais desigual. Edifica-se um verdadeiro paradoxo, consistente no delineamento de um mundo sem fronteiras, anunciado pela globalização e pela tecnologia, mas que nos convida a nos encerrarmos em nós mesmos e a nos relacionarmos basicamente com aqueles que reconhecemos como nossos semelhantes.

Diante de um cenário desta ordem, o magistério da Igreja nos tem conduzido a uma reflexão bastante oportuna sobre as relações que tecemos, diariamente. Merece especial destaque as reflexões que, a esse respeito, têm sido engendradas pelo Papa Francisco.

Publicada no ápice do isolamento social tristemente imposto pela pandemia da COVID-19, a carta encíclica Encíclica Fratelli Tutti nos provocou a dar conta de que estamos atualmente situados em um mundo conectado, mas fragmentado, diante dos problemas que afetam nossa vida em sociedade. Um mundo aberto pela globalização, mas fechado para o outro, que é diferente de mim e que, por isso, tanto me causa desconforto. Um mundo que se sustenta, sem reservas, na lógica do descarte e ignora sujeitos que ainda incomodam a grande massa social: o pobre, o deficiente, o negro, o que ainda não serve (nascituro), o que já não serve mais (o idoso)...

Lembra-nos o Papa Francisco que somos convidados, diariamente, a promover a cultura dos muros, isto é, a olhar todo aquele que não integra minha comunidade de iguais como um ser incômodo, que deve permanecer à distância de mim porque não merece, nem um pouco, minha atenção.

Vivemos em uma verdadeira bolha social, bastante favorecida pelo incremento da tecnologia, a qual pode, sim, nos aproximar do outro lado do universo, mas que também é cruelmente capaz de nos afastar do toque, do cheiro e de todo encontro corpóreo com o outro, comprometendo a constituição de um "nós". Os movimentos digitais de ódio favorecem o distanciamento social. A esse respeito, o Papa Francisco nos ensina:

A tecnologia avança continuamente, mas como seria bom se, ao aumento das inovações científicas e tecnológicas, correspondessem também uma equidade e uma inclusão social cada vez maiores! Como seria bom se, enquanto descobrimos novos planetas longínquos, também descobríssemos as necessidades do irmão e da irmã que orbitam ao nosso redor! (FRANCISCO, 2020, p.29)

As marcas do mundo de hoje precisam ser compreendidas e enfrentadas como uma grande oportunidade para pensar e gerar um mundo aberto, através da promoção da amizade social, que rompa as fronteiras sombrias de um mundo fechado, de uma comunidade de iguais. Somos convidados a nos lançar na grande aventura em que consiste o encontro entre sujeitos diferentes em suas realidades, características e perspectivas:

O outro, a meus olhos, está portanto sempre à margem do que vejo e ouço, está a meu lado, está a meu lado ou atrás de mim, não está nesse lugar que meu olhar esmaga e esvazia de todo “interior”. Todo outro é um outro eu mesmo. (...) Eu e o outro somos como dois círculos quase concêntricos, e que se distinguem apenas por uma leve e misteriosa diferença. Esse parentesco é talvez o que nos permitirá compreender a relação com o outro, que, de outra forma, é inconcebível se procuro abordar o outro de frente e por seu lado escarpado. Mas o fato é que o outro não é eu, e que é preciso chegar à oposição. (MERLEAU-PONTY, 2002, p. 111)

Com efeito, o ser humano não encontra seu significado existencial se estiver limitado a se relacionar exclusivamente com o grupo social no qual está inserido. As relações mais preciosas, tais como a família e a amizade, devem conduzir o sujeito à experiência de novas relações, com pessoas diferentes. Do contrário, estes vínculos sociais favoreceriam o intimismo exagerado e o individualismo que não se adequa à experiência de alteridade, qual se afigura cada vez mais premente em nosso meio social. Encontramos no Papa Francisco uma referência para o que ele chama de cultura do cuidado, que aparece com força em sua Carta Encíclica Laudato Si:

A tecnociência, bem orientada, pode produzir coisas realmente valiosas para melhorar a qualidade de vida do ser humano […] nos dão um poder tremendo. Ou melhor: dão, àqueles que detêm o conhecimento e sobretudo o poder econômico para o desfrutar, um domínio impressionante sobre o conjunto do gênero humano e do mundo inteiro. Nunca a humanidade teve tanto poder sobre si mesma, e nada garante que o utilizará bem […] A verdade é que ‘o homem moderno não foi educado para o reto uso do poder’ […] A sua liberdade adoece, quando se entrega às forças cegas do inconsciente, das necessidades imediatas, do egoísmo, da violência brutal […] carece de uma ética sólida, uma cultura e uma espiritualidade que lhe ponham realmente um limite e o contenham dentro de um lúcido domínio de si. (FRANCISCO, 2015, LS 103-105).

Mais adiante, em sua carta encíclica Fratelli Tutti, Papa Francisco retoma a cultura do cuidado, provocando-nos a superar a lógica de um mundo de sócios para compreendermos que nossa existência, onde quer que estejamos e sejam quais forem os papéis que desempenhamos, deve traduzir-se na experiência do serviço:

A solidariedade manifesta-se concretamente no serviço, que pode assumir formas muito variadas de cuidar dos outros. O serviço é, em grande parte, cuidar da fragilidade. Servir significa cuidar dos frágeis das nossas famílias, da nossa sociedade, do nosso povo.(...) O serviço fixa sempre o rosto do irmão, toca sua carne, sente sua proximidade e, em alguns casos, até padece com ela e procura a promoção do irmão. Por isso, o serviço nunca é ideológico, dado que não servimos ideias, mas pessoas (FRANCISCO, 2020, p.89)

A cultura do cuidado tem especial retumbância em nossas vidas, se considerarmos a realidade social em que estamos inseridos. Vivemos em um país integrante da América Latina, com grandes desigualdades sociais e econômicas, que clamam por atenção e sensibilidade de todos. Mais ainda, estamos situados em uma região - a Região Nordeste - na qual estas discrepâncias ainda são mais acentuadas. Somos, portanto, convidados a enfrentar estes desafios em nossa cidade, em nosso bairro e em nossas relações mais próximas e cotidianas. Diariamente, tocamos a existência de um sem-número de sujeitos de díspares origens e, não raro, com percepções de mundo diametralmente opostas às nossas. Somos convidados a lidar com as diferenças que nos incomodam, mas que nos edificam como sujeitos no mundo.

Promover a cultura do cuidado supõe, portanto, considerarmos a existência do “outro”, curvando-se ao reconhecimento de uma outra subjetividade, irredutível às pretensões e significados de quem a enxerga. A condição da personalidade humana e de todo o estatuto ético que lhe é derivado, tal como asseverou Robert Spaemann, somente pode ser alcançado mediante o pressuposto da diversidade inevitável de sujeitos que, ao se encontrarem, constituem-se:

O modo pelo qual o ser-si-mesmo de cada ser humano reivindica ser real para cada um dos demais é o reconhecimento. Para que alguém seja capaz do reconhecimento de cada um dos demais é provável que tenha de experimentar alguma vez de modo imediato o ser-si-mesmo de um outro, isto é, que tenha experimentado o amor e tenha amado. O nome do restante é lealdade. A forma elementar dessa experiência "absoluta" da realidade é o olhar do outro que cruza com o meu. Sou olhado. E se esse olhar não for um olhar objetivador, examinador, aquilatador ou meramente cobiçante, mas encontra o meu próprio olhar com reciprocidade, então se constitui para a vivência de ambos o que denominamos ser pessoa. Pois só há pessoa no plural. (SPAEMANN, 2015, p. 64)

“Cuidar do outro para cuidar do mundo” é a exortação em que se constitui a temática central desta edição histórica de nossa SEMOC, e que não pode, jamais, se circunscrever aos eventos inscritos nos dias de sua extensa e admirável programação. Seja ela, sobretudo, a bússola, a guiar-nos em nossas trajetórias existenciais; o farol, a iluminar nossa experiência comunitária; a marca indelével de nosso ser-no-mundo.

Eixos Temáticos

Tendo em vista o fato de que é o Direito uma pauta ética mínima, consistente em um conjunto de valores dos quais a sociedade não pode prescindir, sob pena de viver em permanente estado caótico, esse eixo temático do campo jurídico tem por objetivo oportunizar a apresentação de pesquisas jurídicas afetas ao ethos do cuidado, razão de existir sistemas jurídicos, posto ser este um objetivo incontornável à proteção da humanidade e de meio ambiente em suas múltiplas dimensões.

É nesse ínterim que se apresenta a promessa não cumprida da solidariedade, cujos reflexos podem adquirir contornos importantes a partir do desenvolvimento da ética do cuidado, mediante o fomento de uma cultura comportamental advinda de variados campos do Direito, a exemplo do Direito Constitucional, Direito Civil (Família, Responsabilidade Civil), Direito da Seguridade Social, Direito Ambiental, Direito Sanitário, Direito Tributário e Financeiro, Direito Penal (Co-culpabilidade, Justiça Restaurativa), Direito Processual (Mediação, Conciliação), Direito Digital e demais segmentos do agir humano que demandam regramento, sob a orientação da ética do cuidar do outro, tema central desta SEMOC.

Entendendo saúde e adoecimento como formas pelas quais a vida se manifesta, sendo influenciados pelas condições biológicas, do meio ambiente, do estilo de vida, do acesso ao lazer e aos serviços de saúde, eles refletem a conjuntura social, política, econômica e cultural, sendo portanto, experiências únicas vivenciadas por cada pessoa de modo diferente (SCLIAR, 2007; CZERESNIA, 1999). Os cuidados com a saúde devem ser valorizados não apenas pelo seu papel na biologia da doença, mas também por mobilizarem afetos nas relações estabelecidas entre cuidador e quem exerce o cuidado.

Os profissionais cuidadores da saúde realizam estratégias terapêuticas farmacológicas, psicoterápicas, educativas e sociais com o intuito de promover experiências exitosas na promoção, na proteção e no diagnóstico precoce, limitação da incapacidade e na reabilitação, objetivando melhor exercer o cuidar. A proposta deste eixo é convidar à exposição, reflexão e debate, de modo interdisciplinar, experiências advindas do cuidar amplo e permanente.

Vivemos atualmente uma rápida transformação do uso das tecnologias o que nos leva a repensar seu papel e da inovação em atividades relacionadas ao cuidado principalmente na área da saúde e da assistência social. Para Rocha et al (2008) refletir acerca do cuidado na perspectiva da tecnologia nos leva a repensar a inerente capacidade do ser humano em buscar inovações capazes de transformar seu cotidiano, visando uma melhor qualidade de vida e satisfação pessoal. Nesse sentido, a tecnologia pode ser entendida através da utilização de teorias, métodos e processos científicos, para solução de problemas técnicos.

A proposta deste eixo é mostrar como a inovação tecnológica pode ajudar na transformação das práticas de cuidado e assistência com o desenvolvimento de novas tecnologias, ferramentas, dispositivos e sistemas voltados para melhorar serviços de saúde e de assistência social.

O cuidado é inerente ao ser humano, está ligado à atividade, à vida. Todos somos beneficiários ou provedores do cuidado, portanto, dependentes. O cuidado tem suas raízes na família, lugar de referência para a intimidade, a afetividade e a segurança. É na família que se estabelece a primeira relação entre quem cuida e quem é cuidado. Há, no cuidado familiar, um universo relacional muito amplo, direcionado a animais, pessoas, plantas e objetos, com mobilização de afetos e significados. Por ser agente de proteção e cuidado, a família precisa também ser cuidada, visto que, diante das transformações demográficas e socioeconômicas, que geram o empobrecimento, a violência, o desemprego, ela poderá ser incapaz de exercer o cuidado.

Diante do exposto, e, por entendermos ser esta uma temática fundamental, a proposta deste eixo é convidar à reflexão e ao debate, de modo interdisciplinar, a família e o cuidado.

Entende-se meio ambiente como o somatório das condições externas circundantes no interior das quais um organismo, uma condição, uma comunidade ou um objeto existe (ART, 1998). Nesse contexto, a gestão das atividades econômicas e industriais vem se tornando um dos principais problemas para o meio ambiente, devido à expansão das demandas por bens e serviços. Essa lógica gera passivos ambientais e contribui para o aumento dos dados alarmantes sobre emprego e pobreza no mundo, conforme alerta o relatório sobre empregos e erradicação da pobreza da Organização das Nações Unidas (ONU, 2021). Cuidar do Meio Ambiente para obter sustentabilidade nas organizações e nos negócios, nas matas, nos mares, nos rios, nas florestas, no solo, na fauna e na flora, na atmosfera, nas cidades e nos campos é Cuidar do Mundo.

Imprescindível a abertura de debates sobre o avanço de negócios dominados por um modelo linear de produção e consumo, no qual as mercadorias são produzidas no intuito de beneficiar o capital. Aqui busca-se investigar e discutir temas relevantes sobre medidas socioambientais e de planejamento de negócios dinâmicos, inclusivos, resilientes e inovadores, tais como: as condições de vida associadas à contaminação decorrente da produção e descarte de produtos; as mudanças requeridas diante do profundo problema de extração insustentável dos recursos naturais; a gestão de modelos de negócios sustentáveis; a circularidade da economia que encoraje inovações e justiça social; a mudança climática; a “inteligência” artificial que apoie a oferta de serviços públicos com equidade; a implementação de tecnologias inovadoras no projeto e na construção de edificações e de infraestrutura urbana.

Direitos Sociais são os direitos que visam garantir aos indivíduos o exercício e usufruto de direitos fundamentais em condições de igualdade, para que tenham uma vida digna por meio da proteção e garantias dadas pelo estado de direito, e levam em consideração os direitos fundamentais que toda a sociedade desfruta.

Imprescindível a abertura de debates sobre como podemos favorecer o cuidado com o outro, com a sociedade e consigo mesmo, enquanto cidadãos, como forma de atuação enquanto pertença de uma sociedade. A questão do cuidado expressa os próprios limites das sociedades capitalistas em relação à sustentabilidade da vida humana, tendo em vista que a vida e as necessidades humanas não são preocupações centrais da ordem capitalista. Visando detectar avanços no campo da política social, que vem reconhecendo o cuidado como um direito e a premência de se pensar de modo mais equitativo a distribuição da responsabilidade do cuidado.

A proposta deste eixo é convidar à exposição, reflexão e debate, de modo interdisciplinar, experiências advindas do cuidar amplo e permanente.

O cuidado é deve ser uma atividade humana de todos os dias, pois o homem sempre vai depender do cuidado de outro(s) para sobreviver e suprir necessidades. No entanto, pouco se discute sobre o cuidado e como ele se manifesta para além dos espaços, práticas, e campos do saber tradicionalmente vinculados a ele. Se faz necessário desenvolver perspectivas teóricas e práticas do cuidado como uma das estratégias para promover cidades mais solidárias, inclusivas, justas e cuidadosas (NASCIMENTO et al, 2023).

Vivemos atualmente em nossas cidades um contexto de falta de um planejamento urbano que controle a destruição do meio-ambiente e amenize as desigualdades sociais no espaço urbano. Olhar as questões urbanas a partir das perspectivas do cuidado pode ajudar no desenvolvimento de processos urbanos mais democráticos e equitativos.

A proposta deste eixo é discutir como o cuidado pode alcançar as questões urbanas contemporâneas.